Sobre novas candidaturas a Princesa Isabel
Ou como enredos são construídos para manter estruturantes do racismo
intactos
Começamos esse texto pelo final:
sim, Rodolfo é racista. Ele raciocina a partir de pressupostos repletos de
normatizações simbólicas do racismo, sexismo, misoginia, e tantas outras
variantes da opressão. Disto isto, faço um convite para ampliarmos a cena.
Sim, eu assisto BBB. Não só por
entretenimento, já que me divirto muito com tanta coisa que acontece lá Mas
para aprender um pouco sobre gente e relações de poder, visto que as Ciências
Sociais é meu universo de estudo, e sobre comunicação, visto que essa é minha
área de trabalho e militância.
A maioria dos telespectadores
creem que por se autoqualificar enquanto show de realidade, tudo o que ocorre
no BBB é a vida em sua pureza. Mas, para falar uma linguagem corriqueira em
tempos de pandemia: a diferença entre as fases pré-clínicas, 1, 2 e 3 de testes
da vacina e a vacinação em si é que somente essa última opera no âmbito da
realidade, afastando-se desta em ordem decrescente, até a fase “pré” (que nesse
caso não é histórica). O BBB estaria mais ou menos ali entre a fase pré-clínica
e 1, porque é um teste feito com pouca gente, porém isolados em laboratório,
apesar de, no caso do BBB estarmos tratando de seres humanos.
Lucas, Nego Di, Karol Conká,
Lumena. Poderia gastar páginas tratando de como essas “jornadas” foram
eliminadas do BBB sem uma “conversa sobre um tema importante” entre o
apresentador e os participantes, inclusive a informação disseminada de que um
participante guardava uma faca para se proteger de outro, entre tantas outras
cenas que saíram – ou não – do ensaio. Um exercício bom é descrever o roteiro
que foi feito em cada uma dessas cenas. Mas vamos à cena dos últimos dias.
Jovem branca, blogueira, estilo
alta sociedade ganha a prova do líder/ líder indica dois participantes brancos,
estilo “sertanejo”, “ogros”, preconceituosos, atrasados civilizatoriamente para
o “monstro”/ direção escolhe como “monstro” personagens estereotipados de “homens das cavernas”, atrasados
civilizatoriamente, preconceituosos, ogros e
com uma peruca que renderia dissertações / “monstro” faz piada racista
sobre cabelo com participante negro, professor, um dos poucos pretos que
sobraram por não participar diretamente da primeira temporada de tema racial do
programa e que rendeu muito engajamento e dinheiro para a emissora/ participante
negro não reage e apenas desabafa com sua melhor amiga/ programa exibe essas
cenas antes da festa/ apresentador diz que o tema deve render na festa/ artista
negra se apresenta na festa e faz uma fala “solta” sobre respeito ao cabelo das
pessoas negras/ tema não rende na festa/ votação no paredão fora do
confessionário / tema não rende na votação do paredão / dinâmica da segunda
inclui a classificação de quem faz jogo sujo / apresentador pressiona para
participantes não “pipocarem” / tema explode no colo de todo mundo / torna-se
pauta do dia / Emissora branca e construída na sustentação de muita opressão,
entre elas o racismo, se posiciona através de um homem branco em conversa “inédita”
com participantes confinados / antagonista da cena de racismo é eliminado /
acabou a escravidão e viva a Princesa Isabel / Família Real e senhores de
escravo continuam gozando da riqueza acumulada com a escravidão, saindo melhor
na foto/ Vida que segue.
“Mulata” Globeleza, Sítio do
Pica-pau Amarelo, Xuxa, Paquitas, escravos felizes com seus senhores, Adelaide e
Valéria (Personagens do Programa Zorra Total), etc. A emissora tem responsabilidade
por pessoas como Rodolfo raciocinar como racista a ponto de repetir os valores
do racismo até quando tenta se justificar. E nós seguimos gastando esforços
para eliminar os indivíduos ao mesmo tempo que sustentamos as estruturas.
Finalizo aqui, mesmo tendo muita
coisa a conversar. Mas, parafraseando o apresentador, textão não faz revolução,
ao menos por essas bandas de cá, vide O Capital. Por isso, encerro com uma imagem,
e você tira a conclusão que quiser.
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