Porta-bandeira da Vergonha


     Em muitos momentos ser porta-bandeira é uma honra, por representar um Estado, um território ou uma organização militar. No passado, o porta bandeira ou estandarte iam as guerras e protegiam-na com todas as suas forças para que seu povo não fosse desonrado ou considerado derrotado em batalha. No Brasil, durante o carnaval carioca, vemos na TV as apresentações de Porta-Bandeiras e Metre-Sala que fazem uma apresentação especial para os jurados, visando obter uma boa nota, essa dupla tem uma história interessante iniciada na ópoca da escravidão, quando um casal de escravos imitava seus senhores, os barões e baronesas, como motivo de gozação, usando roupas de gala, agradando aos outros escravos. Atualmente, na Bahia, o que vemos são os porta-bandeiras da vergonha e é sobre eles que irei escrever adiante.

    Os porta-bandeiras da vergonha são homens e mulheres pobres, em sua maioria negros e de bairros periféricos de Salvador. Já em relação à idade, não há critérios, tem de adolescentes a idosos, também homens e mulheres, às vezes até crianças. Eles têm a sua disposição um ou mais ônibus, a depender do poder aquisitivo do seu senhor e da quantidade necessária de porta-bandeiras para o evento. Neste ano, eles começaram a ser contratados para a Lavagem do Bonfim e o 2 de  julho, dia da Independência da Bahia, quando seus senhores precisaram mostrar sua força para a sociedade, agora eles estão espalhados pelas ruas de Salvador com vestidos com a camisa de seus senhores e além de portar a bandeira com o rosto dele, entregam santinhos.

    Muitos desses senhores, quando vão panfletar em bairros que nunca pisaram, levam seus porta-bandeiras e pedem para eles amontoarem-se ao seu redor para aparecer na foto e o senhor dizer que o povo o ama, que foi abraçado pelo povo, que foi bem recebido naquela localidade. Mas todos sabem que quase ninguém que ali está a escutá-lo é realmente daquele bairro, os ônibus que levou os porta-bandeiras, a criança a ser carrega e a idosa a ser beijada pode ser encontrado numa rua próxima ao evento, lá também é o local onde eles recebem o pão dormido com queijo duro e suco aguado e ainda tem o supervisor que observa quem está fazendo seu trabalho direito e os obriga a fazer cara de felizes, ou não ganham os quinze conto.

    Até quando continuaremos assistindo a esta coisa ridícula sem comentar nada? Até quando aceitaremos candidatos mentirosos dizendo que foram bem recebidos pelo povo? Nós sabemos e já estamos cansados desse tipo de político e desta forma enganosa de fazer política. Breve veremos na TV, porta-bandeiras que foram pagos para ficar em frente aos estúdios onde são realizados os debates, ninguém está ali porque acredita ou realmente ama aquele candidato, estão ali para receber quinze conto, já passou da hora dessa farsa acabar, chega.

Comentários